quarta-feira, 21 de março de 2012


Texto utilizado no processo de criação no dia 20/03/2012


O GRANDE SONHO

PorEditor
novembro 22, 2011

Por Felipe Mongruel
Para viver um grande sonho, há que se roubar de propósitos, planejamentos e projetos não seus.
Para viver um grande sonho há que militar pelo grande sonho, há que fazer frete com o destino para chegar-se ao apto momento de construir o grande sonho. Torná-lo só seu, com seus toques e retoques do grande feito, da grande obra, do grande merecimento.
O grande sonho é o choque traumático do grande eu com o eu de antes. O encontro indizível com o nascimento. A ávida vontade de ser grande, ou talvez de ser só peixe grande. Mas o grande sonho é assim, não exige planos, mas exige vida. Exige cancha, horas de expediente no tempo e estórias pra contar. Quem não sabe o que se viveu no passado não sabe como irá contar o futuro.
Você que por ventura se segura com a participação da poesia e se move só com a esperança do milagre, saiba que quem concebeu esse pensamento foi casado nove vezes e teve a vida inteira um grande sonho. Não sei qual era, mas só com a destreza da vida vivida se segura com poesia e se move com esperança nessa trajetória. O grande sonho é a força motriz de nossa juventude que não sabe e nem quer olhar pra isso. Muito menos ler isso.
Tive uma experiência curiosa dias atrás com meus alunos de último ano do médio, talvez uma passagem, mas foi deveras significante.
Com a devida vênia leitor, vou contar o que vivi em trabalho.
Em sala de aula, na RMC, por volta das 10 da manhã, provoco o assunto das manifestações londrinas. Dos inúmeros acontecimentos na capital inglesa desencadeados pela morte sem motivo causada pela polícia a um adulto médio, sem maiores perigos que um gato siamês, mas que a polícia tratou de executar. A explosão social e o choque de gerações e naturezas que ocorreram na capital depois disso geraram saques, explosões, incêndios, depredações e mortes, claro. A imprensa britânica tratou de invocar isso como desordem, ou coisas de vândalos, marginais que não tem o que fazer. Talvez até nem tenham mesmo o que fazer, mas isso é olhar pro micro, não pro macro. A questão é muito maior, de muitas outras proporções, e o que acontece em Londres não acontece só lá, mas também em vários outros locais do planeta, de Cairo à Trípoli.
Falei com a turma e eles recebiam essas palavras com enorme estado de letargia, mas ao mesmo tempo se identificavam com os jovens ingleses. Óbvio que não na agressividade, mas no fato importantíssimo de não saber o que fazer, nem para onde ir, nem porque lutar, nem por quê lutar. O oceano desiludido dos jovens pré-universitários é assombroso. O imediatismo de seus amores, de seus deveres, de suas preocupações sem sentido faz com que não amem nada, não haja interesse nem curiosidade por coisa nenhuma. O mundo abre e fecha suas portas e isso não tem importância. Calcados na segurança mórbida do querer fazer quando der na telha. E mesmo assim, sem perspectiva nenhuma continuam aceitando qualquer pessoa em sua páginas sócias, usando camisetas do Guevara, brincos no nariz e qualquer outro tipo de manifestações contra o sistema. Tudo isso pra dizer socorro.
Percebi que meus alunos estavam longe do grande sonho…
Percebi que é desoladora a impressão e o gosto da indiferença pra tudo. O mundo virou indiferente. Somos indiferentes porque o mundo não tem espaço pra sonhadores. Todos são sonhadores sem sonhos definidos, todos são náufragos em sonhos que vão a banca rota todo dia pela internet.
O grande sonho é o processo de individuação do ser. A busca sozinha, fria e gelada do crescimento e da evolução. O grande sonho é a construção, é o dia após dia dedicado numa longa e linda jornada.
Esse texto é dedicado para meus alunos de terceirão que me mostraram estarem dispostos a caminhar e lutar por este processo e para a jornalista, que fez tudo isso se despertar na minha vida, e com quem eu vivo o meu grande sonho.

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