Então, o artista é quase que um pecador, porque ele se mistura com Deus e quer, da mesma forma que Deus, criar novos mundos. E se não houvesse esses artistas criando novos mundos, Deus, que só fez um, nos obrigaria a viver nesse já insuportável (há séculos insuportável). E se não fossem os artistas, nós não teríamos o nascimento de sempre novos mundos.
Cláudio Ulpiano - A estética Deleuziana
terça-feira, 29 de maio de 2012
Autonomia
É a palavra da vez. Sem nenhuma prolongação de i's. Assim, simples como ela é. Autonomia.
Em um grupo jovem, universitário e com pouca experiência é fácil cairmos no processo professoral, aonde alguém lhe diz o que fazer e como fazer e então você faz e esta pessoa vai dizendo se está bom ou não. O trabalho do ator em um grupo de criação é bem diferente. A diretora não é sua professora. Voltando a falar de tintas e cores, a diretora é um pintor de telas, sem as cores e as tintas é impossível pintar, e se ela tiver que fazer as cores o processo demora o dobro, o triplo. Vai de você trabalhar para criar essas cores, criar um corpo, criar repertório. E isso ninguém pode fazer por você, ninguém. Por mais que você esteja correndo em grupo ou fazendo exercícios em grupo, é um trabalho interno. Você corre sozinho, sozinho no mundo inteiro, em 510 milhões de km², em 7 bilhões de habitantes do planeta, você está sozinho consigo mesmo, seus pés e o asfalto que seus tênis de corrida tocam. E você tem que ir além de si, extrapolar-se no sentido de desacomodar-se.
Mas ainda assim é uma autonomia em grupo, pois não é pensando em você mesmo, mas em algo maior, em um grupo. Ser desleixado com você mesmo é ser desleixado com o grupo, que conta com sua disponibilllidade, com seu corpo pronto para pintar a imagem que a diretora quiser ver na tela, que é o palco, que é sagrado.
Para mim, é a palavra que vai reger o trabalho dessa semana, das próximas, veremos. Pois não basta disponibilidade, é preciso prontidão.
Em um grupo jovem, universitário e com pouca experiência é fácil cairmos no processo professoral, aonde alguém lhe diz o que fazer e como fazer e então você faz e esta pessoa vai dizendo se está bom ou não. O trabalho do ator em um grupo de criação é bem diferente. A diretora não é sua professora. Voltando a falar de tintas e cores, a diretora é um pintor de telas, sem as cores e as tintas é impossível pintar, e se ela tiver que fazer as cores o processo demora o dobro, o triplo. Vai de você trabalhar para criar essas cores, criar um corpo, criar repertório. E isso ninguém pode fazer por você, ninguém. Por mais que você esteja correndo em grupo ou fazendo exercícios em grupo, é um trabalho interno. Você corre sozinho, sozinho no mundo inteiro, em 510 milhões de km², em 7 bilhões de habitantes do planeta, você está sozinho consigo mesmo, seus pés e o asfalto que seus tênis de corrida tocam. E você tem que ir além de si, extrapolar-se no sentido de desacomodar-se.
Mas ainda assim é uma autonomia em grupo, pois não é pensando em você mesmo, mas em algo maior, em um grupo. Ser desleixado com você mesmo é ser desleixado com o grupo, que conta com sua disponibilllidade, com seu corpo pronto para pintar a imagem que a diretora quiser ver na tela, que é o palco, que é sagrado.
Para mim, é a palavra que vai reger o trabalho dessa semana, das próximas, veremos. Pois não basta disponibilidade, é preciso prontidão.
segunda-feira, 21 de maio de 2012
Processo de Criação de “O Dorminhoco” por Simão Cunha.
O processo de criação para o espetáculo “O
Dorminhoco” tem sido muito significativo para mim. Desde quando fizemos a
vivência das técnicas do teatro físico com o Wal Mayans ando me questionando
sobre o meu trabalho como ator, como arte-educador e como integrante de um
grupo de pesquisas cênicas. Talvez a definição mais lógica sobre alguém que
segue um mesmo trabalho há cinco anos seria o conforto, porém o desconforto
está falando mais alto. Minha vontade de amadurecer é muito grande, e sinto que
estou conseguindo, mas amadurecer é um desconforto constante. Quanto mais
certeza eu tenho do que faço e do que quero fazer, mais dúvidas eu tenho se o
que eu faço é mesmo um bom caminho para trilhar.
É a primeira vez no grupo que eu não sou o ator
mais novo. É a primeira vez num elenco que sou o mais experiente e talvez essa
responsabilidade esteja me exigindo outro posicionamento. De alguma forma, foi
sobre isso que conversamos na vivência com o Wal Mayans, sobre a autonomia, um
questionamento constante nas minhas reflexões. E todo esse questionamento não é
ruim, muito pelo contrário, acredito que para fazermos um trabalho realmente
bom e eficiente devemos sempre nos questionar e revisitar as nossas ideologias
e vontades para não nos cegarmos no meio do caminho e perder o rumo.
De alguma forma o
tema da autonomia, discutido muito na vivência com o Wal Mayans, permeou e
permeia no processo de criação. Na oficina de mascaramento com o Roberto
Innocenti, nas experimentações com as bolas e latões com o Deferson Melo, nas
oficinas de acrobacia e circo da Luthy de Milano e nas conversas e
direcionamentos da diretora, Letícia Guimarães. Somos artistas, é preciso saber
o que queremos dizer com o nosso trabalho e, acima de tudo, fazer o nosso
trabalho realmente ser NOSSO. E essa alerta fica mais clara quando o trabalho é
apresentado às crianças e elas sentem que os atores sabem o que estão fazendo
ou falando. Aí sim o que fazemos parece fazer sentido (em todos os sentidos) em
nós, atores pesquisadores.
Passaram apenas quatro
meses de pesquisa, descobertas, crises e gozo, mas já parece uma eternidade.
Muita coisa aconteceu. Já rimos, choramos, discutimos, brincamos e crescemos. A
dramaturgia já está esboçada, uma releitura singela e bastante significativa do
livro “Dorminhoco” da Cleo Busatto. Algumas músicas da Karla Izidro já começam a
embalar o nosso sonho, parece um conto de fada. Agora começa uma nova fase, o
REFINAMENTO, uma hora parecerá que nada vai dar certo, mas no fim tudo fará
sentido, pois trabalhamos, pensamos e discutimos (e muito) para isso. E será
LINDO.
Por enquanto quero agradecer a todos os meus
companheiros de VIDA: Letícia, Fabiana, Blas, Karla, Julia, João, Kamila, Wal,
Roberto, Denize, Deferson, Eduardo, Luthy, Guga e Cezar. NOSSO sonho está
apenas no começo e vamos sem pressa amadurecendo e respirando a NOSSA arte,
porque o tempo é NOSSO.
domingo, 20 de maio de 2012
O pró-cesso
A Oficina com Wal Mayans
Iniciamos este processo em fevereiro, com uma oficina
de Wal Mayans, de 10 dias. Dez dias de descobertas. Assim como previsto pela
Letícia, a oficina deu um gás para o início dos trabalhos, energizou, unificou
e motivou o grupo, encantados com o trabalho com um mestre. Foram 10 dias
intensos, emocionantes, sofridos. O trabalho do Wal mexe com as estruturas
fragilmente acomodadas de nós mesmos, há um confronto brutalmente delicado, não
apenas com nossas limitações físicas, evidenciadas nas dores musculares que nos
visitavam à noite, mas de maneira mais profunda nos truques sentimentais e
psíquicos que nos damos, quando achamos que somos fortes, e pior, quando nos
convencemos de que somos fracos. E então somos surpreendidos com o confronto
com nossas capacidades, e nossas desculpas caem por terra. As máscaras que
colocamos nos joelhos operados, nos corações frágeis, nos pulmões
congestionados, nos muitos anos pesando, nos supostos não-consigos, tudo é desmascarado,
e temos que encarar o fato de que sim, conseguimos. Acabam-se as desculpas para
o não mais tentar. E isso te dá gás. Ou te derruba. É preciso encontrar, então,
a coragem, que essa sim precisamos encontrar: coragem para ser o que podemos
ser.
Com o trabalho físico aprendemos a fazer mais
combinações com nossas cores, que com algumas primárias e outras secundárias,
cada um com o tom que puder, temos uma paleta maior que apenas o arco-íris.
Trabalhos com equilíbrio, com bastões, com pinturas, com voz, com latões, com
bolas, com água, e que retirando todos esses objetos, acrescentando outros,
criamos no final das contas, belas cenas. Isso foi uma das coisas que mais me
surpreendeu, a delicadeza e sensibilidade de Wal Mayans em transformar simples
sequencias de movimentos, que inicialmente não possuíam intensão nenhuma, em
cenas tocantes. De exemplo, uma cena criada a partir das sequencias de direções
do Simão e da Denize, ao som baixinho da voz dela cantando Asa Branca,
acrescentando Deferson e João marchando de um lado para o outro, resultou em
uma emocionante cena de guerra, de um pai tentando proteger sua filha, que se
perde em meio às bombas e inocentemente pede um chocolate a um soldado, que a
mata com um tiro. Este foi apenas um dos materiais que descobrimos possuir,
cito outras cenas: um velório de uma mulher desesperada, um marido infiel e um
filho tentando consolar a mãe, que após terminar este rito, se renova com a
água para uma outra vida; uma mulher que espera tanto por outro, que final das
contas esperava mais pela própria espera, e não o via chegar ao seu lado; uma
igreja fervorosa, com um pastor pregando as palavras da Bíblia e realizando
exorcismo de uma mulher, e nesta cena Fabiana nos deu uma belíssima sequencia
coreográfica, nos dando mostra de seu repertório corporal de mais de 20 anos de
exercício de movimentos corporais.
Nestes
10 dias criamos material que ainda estamos explorando, e criamos ainda mais.
Mas mais difícil do que criar material, é seleciona-lo.
Cria-ção
Após definirmos o pré-roteiro começamos então a criar
as cenas, a peça. E aí foram muitos jogos, muitas brincadeiras, buscando este
estado criança, que particularmente me é um tanto quanto difícil de me disponibilizar
para. Terapias à parte, ainda quando criança (típica frase de início de
terapia...)eu era muito individualista, gostava dos esportes individuais, dos
trabalhos escolares individuais, dos jogos que eu poderia jogar sozinha, do meu
quarto de filha (até então) única, meu quarto com meus brinquedos, em que eu
poderia fazer o que eu quisesse sem ter que lidar com a inconveniente vontade
dos outros de também fazer o que queriam. E agora, por mais irônico que pareça após esta
descrição, faço parte de um grupo. Um grupo, no sentido mais colaborativo
possível, em um sentido quase incompreensível para quem não faz parte deste
mundo, em um nível mais que familiar. E com este contraste me vêm a vontade de
fazer parte disso, de, afinal, me agrupar, fazer parte de algo além de mim
mesma, pois eu por eu mesma não faria é nada, devido ao irremediável fato de
que o que eu fizer apenas por mim vai morrer junto comigo. E então, para mim,
define-se: eu quero ou não quero. Eu quero.
E aí vem a primeira parte da criação, de
improvisações, para ter material para as cenas. Para mim era difícil confiar na
diretora, de que aquelas tardes e tardes e tardes [...] e tardes de
improvisações resultariam em alguma coisa, qualquer coisa que fosse, não
precisava nem ser uma peça. Aí vem a parte de acreditar no grupo, acreditar no
trabalho de todas estas pessoas unidas para um objetivo e se
dis-po-niii-bii-lii-zar para a criação. De novo, difícil. Apesar de todos os
toques, apesar da familiar voz me dizendo “o primeiro passo é mudar a energia e
o humor”, era difícil, E não ficou fácil, passei por esta etapa aos trancos e
barrancos. Tenho fé de que seja uma dificuldade inicial, resultado da falta de
experiência, de vivência, e principalmente na falta de prática nessa tal coisa
de grupo. Afinal, no individual é tudo mais fácil, e ficamos mal acostumados em
não ter que enfrentar dilemas, não ter que enfrentar confrontos, ninguém nos vê
chorar, ninguém faz questão de saber o que você pensa e sente, muito menos isso
faz parte do trabalho. Mas afinal das contas, dois meses de diiiis-poo-nii-bii-lii-zação
da equipe e conseguimos então, uma peça, com início, meio e fim
Esta é a atual fase do processo, de organizar os
esboços, tirar e acrescentar elementos deste esqueleto chamado “O Dorminhoco”.
Agora após todo aquele turbilhão de improvisações e criações, chega a hora do
desapego. Algumas de suas idéias serão cortadas, e você tem que aprender a
abrir mão delas, novamente, confiar na sensibilidade da diretora, e que por
mais que você, paaarticularmente, não goste de tal idéia, se o Grupo gosta você
não pode ser destrutivo, mas sim colaborativo, ver o lado bom das coisas, ser
positivo, pois idéias novas ainda terão que chegar e você tem que estar
diiiiis-pooo-ní-vel para a chegada delas.
E elas estão chegando, lindas. Como este Grupo tem
idéias lindas. O Dorminhoco está chegando, e com o seu crescimento estou
aprendendo a trabalhar, pois apesar de ser uma escolha de e para vida, é um
trabalho, e assim como o pintor de paredes aprende a pintar as paredes sem
sujar todo o chão e o rodapé e as paredes que não devem ser pintadas, o ator
também deve aprender a trabalhar sem querer ocupar mais ou menos espaço, mas
mesclando seu espaço com o dos outros, e então, colorindo. É o que estamos
fazendo agora, colorindo, cada um com suas cores, suas técnicas de pintura, um
desenho que já tem seus contornos e deve ser agora preenchido com cores, músicas,
palavras, e calor humano.
Escritos pueris. E crus.
Escritos pueris. E crus.
Primeiro processo de
criação teatral da atriz Kamila Ferrazzi
Primeiros passos e
descobertas!
Para falar desse
processo tenho que falar um pouco da minha vida, de mim. Pois é tudo tão
ligado. Nossa vida, nossa arte, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossa
posição, nossos ideais e nossos sonhos. Um completando o outro e assim formamos
nossa vida.
A alegria é imensa,
é um processo de descobertas, descobrir que é através da arte que eu quero
viver, do Teatro, que tem me completado, e me mostrando um sentido para nossas
vidas, um sentido de viver para fazer o bem através da nossa arte e do que
temos para oferecer, sendo em um simples sorriso, um abraço apertado ou uma
palavra cantada.
Falta técnica, disciplina e muito estudo. Mas
não falta amor por esse trabalho, e por cada descoberta que eu venho tendo
nessa companhia. Cada ser humano que eu venho conhecendo, com suas qualidades e
defeitos. Qualidades que me impulsionam para crescer, melhorar e me
desenvolver, e com seus defeitos que me
mostram que são apenas efeitos especiais para que possamos nos lapidar.
Aqui é o lugar onde
eu posso me expressar, chorar, amar, sorrir, gritar e cantar. Descobrir quem é
a kamila, a kamila de corpo e alma. O que ela é capaz de ser e fazer. O que
somos capazes de fazer juntos! Construir
nossos sonhos, ampliar nossos horizontes
e estar a serviço de algo bem maior.
Influenciar o mundo com muita ARTE!
Mas nem tudo é cor de rosa com florzinha delicadas. Há
também espinhos, pedras e as vezes até enormes plantas carnívoras que parecem
que vão nos devorar. Ufa! mas cada uma
tem uma função em nossa vida.
“ no
poema e nas nuvens cada qual escolhe o que deseja ver” ( Helena Kolody).
As vezes espinhos
podem servir como nossa proteção, pedras para construir uma linda casa, e
plantas carnívoras que não nos fazem mal pois comem apenas insetos. A vida é como escolhemos ver! Assim
dorminhoco deixa a sua mensagem “ Olhe a vida com outros olhos!”.
“ sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito
que temos”. (Willian Shakespeare)
Em meio a todas as minhas aspirações, há
também duvidas crises e dias difíceis. Mas basta querer encarar que elas vão se
dissolvendo e se resolvendo no decorrer do processo. Vamos encontrando caminhos
e as respostas para as nossas duvidas, que encontro na nossa obra e na
preciosidade de cada personagem.
Iniciamos o nosso
processo com a vinda do Wal, que trouxe
muitas coisas boas para o nosso grupo. Trabalhamos durante 10 dias teatro
físico.
O treinamento do Wal
foi de lavar a alma, onde as gotas de suor escorridas pela chão iam nos purificando.
Precisão é a palavra
do wal e minha nova busca como atriz.
Utilizamos uma força bruta interior mas com uma delicadeza exterior.
O ritual do teatro,
tudo é sagrado. O correr de manhã para nos purificar, fazer uma roda nos
ajoelhar e começar o trabalho. Fazer com mais amor. E a disciplina que devemos
ter.
Preparo físico,
fluidez em nossos movimentos, energia em todo o corpo, equilíbrio e entrega.
Corrida, bastão e
pulos. E então partimos para a criação de cenas a partir das nossas ações
físicas. Que nos deu uma boa base quando iniciamos a criação do Dorminhoco.
O Wal nos apontou
caminhos e nos deu a direção, agora é só praticar praticar praticar...
Conclusão: PRECISO
MELHORAR!
Trabalhamos também
por 3 dias, com o Roberto Inocente, teatro de máscara, focando a comédia dell’
arte. Pois tínhamos a ideia de usar algum tipo de máscara no espetáculo.
Trabalhamos muito com improvisação, e o corpo
de cada personagem da comedia dell’arte, a utilização da cabeça e a expressão da nossa boca enquanto
utilizamos máscaras.
Trabalhamos também
com máscara neutra e as possiblidades do nosso corpo, e como nos comunicamos
através do gesto.
E agora temos o
esboço do nosso espetáculo! Nutrido, pela experiência do Wal, do Roberto, dos
nossos grupos de estudo, filmes, livros, poesias e da experiência de cada integrante do grupo.
Estamos construindo
um espetáculo muito lindo e contagiante.
E agora com a
presença da Karlinha, nossa musicista, o Dorminhoco está ganhando um toque
especial.
Na oficina com a
Karla, trabalhamos com estado de espirito dos personagens.
Ator é CORPO e ALMA.
Se for somente corpo torna-se algo mecânico mas quando possui alma ganha vida.
Se eu estou triste estou triste não finjo que estou, é o personagem que está
triste e não a Kamila. Utilizamos a transposição, transpor os sentimentos que
já temos conhecimento para o personagem, que ficará triste não pelo motivo que
a kamila está e sim pelo motivo do personagem, por isso a importância do
entendimento de cada parte da história e do personagem. A construção de cada cena. Ai vamos dando
vida ao personagem e entendendo o por que de cada olhar, de cada gesto, de cada
suspiro e de cada sorriso, buscando o estado de espirito do personagem em cada
momento da história. ( ainda estou no inicio dessa construção)
Vivenciar a
experiência a cada momento, sentir tudo que o dorminhoco transmite, se não
sentir tudo profundamente não tem por que faze-la.
Para a construção do
nosso texto que ainda está em processo, tivemos como base também o livro “o que
é a vida?”, um livro de filosofia para crianças, trazendo questionamentos,
sobre a vida e as diferenças. Tentando mostrar um outro lado para o dorminhoco,
sobre as dificuldades que encontramos no caminho. PENSAR E NOS QUESTIONAR.
Assistimos alguns
filmes que nos inspiraram, Mic Mac(Direção de Jean Pierre) que podemos usufruir
da sua estética e a invenção de objetos que os personagens da trama constroem,
recriando inventos com sucatas e objetos aparentemente insignificante. Que é
uma das propostas do nosso espetáculo, com a utilização de latas, latinhas e
latões, ressignificando-os.
“Waking Life” foi
outro filme que assistimos, Que faz um questionamento, se estamos feito
sonâmbulos quando estamos acordados ou estamos conscientes enquanto sonhamos? É uma das reflexões que buscamos fazer em
nosso espetáculo, de uma maneira brincante e contagiante. Acordar para sonhar.
Vimos então o filme “Ponte
Para Terabitia”, inspirado na literatura “O Segredo de Terabítia. O filme conta
a história de um menino muito tímido e solitário que sofre bullying na
escola,até que conhece Lesly uma menina também rejeitada pelos colegas por ser
“esquisita”.Com a imaginação de lesly e os desenhos do menino, acabam criando Terabítia, uma terra apenas para eles
dois, que com suas imaginações criam um mundo de fantasias, onde conseguem
resolver seus problemas da escola e enfrentar seu medos. Com esse filme podemos
indentificar um pouco da história de Dorminhoco, um menino que atrvés do seu
sonho e seus pensamentos busca a resolução de suas “crises”.
Na cultura oriental é falado sobre
os véus, a ignorancia, raiva, orgulho, o ciumes, a paixão e o medo. Ao
removermos esses véus nos encontramos com a essencia pura de nosso ser,nossa
alma. Em meu ver dorminhoco busca por
esse encontro, enfrentando seus medos em cada circunstancia que lhe é dada,
reconhecendo seu erros e então removendo esses véus,se tornando um garoto feliz
por ser o que é.
Em busca da criança
interior...
No inicio do
processo, fizemos muitas brincadeiras de criança, pega-pega,
esconde-esconde-gato mia, pular corda, pular elástico, bola, ciranda... foi
como um resgate, aquela vontade de bater o trinta e um, aquele medo que alguém
te ache naquele super esconderijo, a busca pela diversão. A energia da criança
que brinca brica e não cansa nuca.
Nesse processo de
construção de um espetáculo para Criança, precisamos conhecer a nossa criança
interior, ou melhor reconhecer o que já existe dentro de nós. Nos conectar com
essa criança é trazer vida ao espetáculo, é se encantar com o mundo, e
descobrir o novo, achar graça e vida naquilo que parecia não ter importância.
Nesse processo quero
resgatar minha criança e então cuidar dela com todo o amor de que formos
capazes de traze-la de volta para nossa vida, para que com ela recuperemos a
leveza, a pureza, a capacidade de acreditar, criar, brincar e crescer. A vida
sem essa criança torna-se um jardim ressecado e estéril. Falta vida, falta
alegria, falta sonhos e falta amor.
Nem sempre é fácil
encontrar esse criança, pois é preciso um mergulho dentro do nosso coração, as vezes não temos
contato com a nossa criança por tanto tempo que ela se esconde bem fundo...mas
ela está lá, sempre estará esperando por NÓS. Vamos recupera-la para uma vida
com mais cores e sabores.
Trabalhar em grupo é
uma virtude...
Nesse processo de
criação coletiva tenho pensado muito em três palavras, Humildade, Disciplina e Honestidade.
Humildade pois não estamos no palco somente
por vaidade ou por um ego exacerbado, e sim a serviço de. Humildade para
crescer com o grupo e não querer ser melhor que o outro. Humildade para
aprender aquilo que achávamos que sabíamos. Disciplina (difíciiiiil, mas não impossível)
praticar todos os dias tanto o físico como o intelecto, como um ritual. Estar presente de corpo e alma em cena. E honestidade
comigo mesma, com o grupo e com a obra. A todo o momento, fora ou dentro da
cena.
Trabalhar em grupo
exige um querer positivo de cada um. É meu primeiro grupo e sinto que tenho
muito o que melhorar, trabalhar a cada dia, nos colocar com garra, ter
compromisso, delicadeza e respeito mutuo entre o grupo, ser mais paciente e
tolerante, ter maturidade e autonomia, um maior posicionamento, amor pelo trabalho e abertura para ouvir as
críticas.
Estou amando essa experiência
de grupo. Nem sempre é só harmonia, existem os desentendimentos e discussões,
mas acontecem nas melhores famílias. Temos opiniões diferentes e somos diferentes,
cada um é cada um, não precisamos concordar em tudo, apenas nas coisas mais
importantes, o que nos une enquanto grupo, o nossos proposito com o teatro e o
acreditar nesse ideal. Preservar o que é sagrado, a confiança em cada um do
grupo, a sinceridade e o amor um pelo outro.
A criação de um
espetáculo tem sido linda e muito importante para o meu desenvolvimento, tem
sido importante para minha VIDA. Muitos processos vão se abrindo, muitos
sentimentos se aflorando como se fosse um intenso turbilhão, algumas fichas vão
caindo, e esse momento deve ser preservado para que realmente possamos crescer
enquanto atores e pessoas.
Estar com o coração aberto e os ouvidos
atentos para as perolas que recebemos a cada dia de ensaio. “Estar atenta as
preciosidades que a vida nos oferece.” (Leticia Guimarães)
Gratidão é a memoria
do coração já dizia uma sábia diretora.
Gratidão a cada um
dos abraçadinhos que me envolvem nessa arte e me possibilitam um espaço de
sonho. Que possamos crescer juntos nos desenvolver junto e criar juntos,
preservando o sagrado nas nossas relações, para que sempre seja maior do que
qualquer desentendimento. Que possamos oferecer um ao outro o que temos de
melhor, e assim a vida nos retribuirá com o que ela possui de melhor.
Por hora é isso,
desculpa falar tanto mas é que preciso colocar tudo pra fora pra então ir organizando
tudo dentro de mim.
Mas tem muita estrada
pela frente, muito treino, muito estudo, muita prática e muita entrega. Agora
começo um estudo mais profundo do personagem Dorminhoco e em breve posto para
vocês, fica em baixo um versinho que escrevi, nessa busca pela nossa missão.
“A missão é seguir,
a missão é sentir só assim vou descobrir que missão devo cumprir. Esse processo
quero entender, pra poder me conhecer, entrar no meu coração, Ativar minha
emoção tendo plena compreensão do que eu faço com a minha mão nesse mundo tão
grandão.
O coração vai bater,
um sorriso aparecer e algumas lagrimas vão escorrer. Sim é isso que devo
fazer...é isso que eu amo fazer. É o que vim pra fazer. Vida vida vida minha o
que posso fazer? Se é isso que devo seguir me ensina então a servir, com
carinho e devoção e muito amor no coração. Com
a arte eu quero aprender na arte eu quero viver da arte eu quero
compreender. A arte eu quero ser. Vida vida vida minha deixa em mim a arte
nascer, vida vida vida minha deixe em mim a arte crescer”
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Inspirações...
“Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. (Raul Seixas)
A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo [...]
Manoel de Barros
O Dom de Sonhar
A esperança engana
Mente o sonho
Eu sei.
Que mentiras lindas contei para mim...
Significado
No poema
e nas nuvens
cada qual descobre
o que deseja ver
Invenção
Inventou uma lua cheia.
Clareia a noite em mim.
Sou outra
Quando sonho,sou outra.
Inauguro-me
Helena Kolody
Dever de Sonhar
Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis
Fernando Pessoa
Há quem diga que todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância.
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.
Willian Shakespeare
O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.
Adélia Prado
Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado.
Roberto Shinyashiki
O dia da sua criança
Uma mensagem especial para a criança do adulto
Uma mensagem especial para a criança do adulto
William Rezende Araújo
|
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Um Retrocesso Para Avançar
Começamos o processo (institucionalmente falando) no dia 30 de Janeiro onde todos expomos nossas vontades e desejos de como seria a peça e esboçamos nossa primeiro "concepção" do espetáculo.
Alguns dias depois (poucos, por sinal) recebemos a visita do nosso grande amigo Wal Mayans, fizemos 10 dias de oficina com ela para aprimorarmos técnica e nos integrarmos mais como grupo, simplesmente fantástico.
Pouco tempo após a ida do Wal começamos os ensaios de criação com um trabalho mais voltado para o corpo seguindo uma estética não-naturalista, que eu confesso, foi e é onde eu mais tenho dificuldade em todo o processo. Ao mesmo tempo tivemos uma oficina com Roberto Inocente praticamente junto com o início dos ensaios, onde aprendemos mais sobre a utilização de máscaras.
Passamos por toda uma criação de personagem e de composição coreográfica onde fomos do sonhos aos pesadelos, esculpimos uma obra, que ainda que grosseira, foi esculpida a... não sei, 26 mãos? Onde podemos ver em cada pedaço dessa obra um pequeno pedaço de nós, de nossos anseios, vontades e desejos que tínhamos para o Dorminhoco NAQUELA Reunião ocorrida a 98 dias atrás (quanto tempo, jesus amado). Lógico que nem tudo foi lindo e maravilhoso, tivemos brigas, discussões, crises, choros, e muito mais nesse processo, e agora, parando para pensar, vejo que todas foram necessárias, nossos "sofrimentos" e "desilusões" também estão impressos na obra, mas isso não quer dizer que ela esteja triste, melancólica e horrorosa, isso a torna humana.
E agora temos ainda mais coisas, a Karlinha vem com nossas músicas, o Eduardo com nosso figurino, o Blás arrasando com o nosso cenário, o Guga e os nossos adereços, o Anry iluminando o nosso caminho, puxa, quanta gente...
Pois é, ainda faltam 81 dias para terminarmos essa etapa do processo, ainda precisamos "limpar" a nossa escultura que ainda está "grosseira" e "inacabada", mas, aos meus olhos, mesmo ainda sendo rústica, nossa obra já está linda e quando finalizarmos ela ficará... não digo perfeita, mas digo bela, de uma beleza que vai além da estética, de uma beleza que está dentro de todos nós, só precisamos deixar o Dorminhoco que existe dentro de cada um acordar para os sonhos e para vida.
Vamos Dorminhocos, acordem e desejem a todos que ainda dormem na realidade: "BONS SONHOS"!
Assinar:
Postagens (Atom)