O processo de criação para o espetáculo “O
Dorminhoco” tem sido muito significativo para mim. Desde quando fizemos a
vivência das técnicas do teatro físico com o Wal Mayans ando me questionando
sobre o meu trabalho como ator, como arte-educador e como integrante de um
grupo de pesquisas cênicas. Talvez a definição mais lógica sobre alguém que
segue um mesmo trabalho há cinco anos seria o conforto, porém o desconforto
está falando mais alto. Minha vontade de amadurecer é muito grande, e sinto que
estou conseguindo, mas amadurecer é um desconforto constante. Quanto mais
certeza eu tenho do que faço e do que quero fazer, mais dúvidas eu tenho se o
que eu faço é mesmo um bom caminho para trilhar.
É a primeira vez no grupo que eu não sou o ator
mais novo. É a primeira vez num elenco que sou o mais experiente e talvez essa
responsabilidade esteja me exigindo outro posicionamento. De alguma forma, foi
sobre isso que conversamos na vivência com o Wal Mayans, sobre a autonomia, um
questionamento constante nas minhas reflexões. E todo esse questionamento não é
ruim, muito pelo contrário, acredito que para fazermos um trabalho realmente
bom e eficiente devemos sempre nos questionar e revisitar as nossas ideologias
e vontades para não nos cegarmos no meio do caminho e perder o rumo.
De alguma forma o
tema da autonomia, discutido muito na vivência com o Wal Mayans, permeou e
permeia no processo de criação. Na oficina de mascaramento com o Roberto
Innocenti, nas experimentações com as bolas e latões com o Deferson Melo, nas
oficinas de acrobacia e circo da Luthy de Milano e nas conversas e
direcionamentos da diretora, Letícia Guimarães. Somos artistas, é preciso saber
o que queremos dizer com o nosso trabalho e, acima de tudo, fazer o nosso
trabalho realmente ser NOSSO. E essa alerta fica mais clara quando o trabalho é
apresentado às crianças e elas sentem que os atores sabem o que estão fazendo
ou falando. Aí sim o que fazemos parece fazer sentido (em todos os sentidos) em
nós, atores pesquisadores.
Passaram apenas quatro
meses de pesquisa, descobertas, crises e gozo, mas já parece uma eternidade.
Muita coisa aconteceu. Já rimos, choramos, discutimos, brincamos e crescemos. A
dramaturgia já está esboçada, uma releitura singela e bastante significativa do
livro “Dorminhoco” da Cleo Busatto. Algumas músicas da Karla Izidro já começam a
embalar o nosso sonho, parece um conto de fada. Agora começa uma nova fase, o
REFINAMENTO, uma hora parecerá que nada vai dar certo, mas no fim tudo fará
sentido, pois trabalhamos, pensamos e discutimos (e muito) para isso. E será
LINDO.
Por enquanto quero agradecer a todos os meus
companheiros de VIDA: Letícia, Fabiana, Blas, Karla, Julia, João, Kamila, Wal,
Roberto, Denize, Deferson, Eduardo, Luthy, Guga e Cezar. NOSSO sonho está
apenas no começo e vamos sem pressa amadurecendo e respirando a NOSSA arte,
porque o tempo é NOSSO.
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