terça-feira, 29 de maio de 2012

Esse ser artista

Então, o artista é quase que um pecador, porque ele se mistura com Deus e quer, da mesma forma que Deus, criar novos mundos. E se não houvesse esses artistas criando novos mundos, Deus, que só fez um, nos obrigaria a viver nesse já insuportável (há séculos insuportável). E se não fossem os artistas, nós não teríamos o nascimento de sempre novos mundos.



Cláudio Ulpiano - A estética Deleuziana

Autonomia

É a palavra da vez. Sem nenhuma prolongação de i's. Assim, simples como ela é. Autonomia.
Em um grupo jovem, universitário e com pouca experiência é fácil cairmos no processo professoral, aonde alguém lhe diz o que fazer e como fazer e então você faz e esta pessoa vai dizendo se está bom ou não. O trabalho do ator em um grupo de criação é bem diferente. A diretora não é sua professora. Voltando a falar de tintas e cores, a diretora é um pintor de telas, sem as cores e as tintas é impossível pintar, e se ela tiver que fazer as cores o processo demora o dobro, o triplo. Vai de você trabalhar para criar essas cores, criar um corpo, criar repertório. E isso ninguém pode fazer por você, ninguém. Por mais que você esteja correndo em grupo ou fazendo exercícios em grupo, é um trabalho interno. Você corre sozinho, sozinho no mundo inteiro, em 510 milhões de km², em 7 bilhões de habitantes do planeta, você está sozinho consigo mesmo, seus pés e o asfalto que seus tênis de corrida tocam. E você tem que ir além de si, extrapolar-se no sentido de desacomodar-se.
Mas ainda assim é uma autonomia em grupo, pois não é pensando em você mesmo, mas em algo maior, em um grupo. Ser desleixado com você mesmo é ser desleixado com o grupo, que conta com sua disponibilllidade, com seu corpo pronto para pintar a imagem que a diretora quiser ver na tela, que é o palco, que é sagrado.

Para mim, é a palavra que vai reger o trabalho dessa semana, das próximas, veremos. Pois não basta disponibilidade, é preciso prontidão.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Processo de Criação de “O Dorminhoco” por Simão Cunha.



O processo de criação para o espetáculo “O Dorminhoco” tem sido muito significativo para mim. Desde quando fizemos a vivência das técnicas do teatro físico com o Wal Mayans ando me questionando sobre o meu trabalho como ator, como arte-educador e como integrante de um grupo de pesquisas cênicas. Talvez a definição mais lógica sobre alguém que segue um mesmo trabalho há cinco anos seria o conforto, porém o desconforto está falando mais alto. Minha vontade de amadurecer é muito grande, e sinto que estou conseguindo, mas amadurecer é um desconforto constante. Quanto mais certeza eu tenho do que faço e do que quero fazer, mais dúvidas eu tenho se o que eu faço é mesmo um bom caminho para trilhar.
É a primeira vez no grupo que eu não sou o ator mais novo. É a primeira vez num elenco que sou o mais experiente e talvez essa responsabilidade esteja me exigindo outro posicionamento. De alguma forma, foi sobre isso que conversamos na vivência com o Wal Mayans, sobre a autonomia, um questionamento constante nas minhas reflexões. E todo esse questionamento não é ruim, muito pelo contrário, acredito que para fazermos um trabalho realmente bom e eficiente devemos sempre nos questionar e revisitar as nossas ideologias e vontades para não nos cegarmos no meio do caminho e perder o rumo.
                De alguma forma o tema da autonomia, discutido muito na vivência com o Wal Mayans, permeou e permeia no processo de criação. Na oficina de mascaramento com o Roberto Innocenti, nas experimentações com as bolas e latões com o Deferson Melo, nas oficinas de acrobacia e circo da Luthy de Milano e nas conversas e direcionamentos da diretora, Letícia Guimarães. Somos artistas, é preciso saber o que queremos dizer com o nosso trabalho e, acima de tudo, fazer o nosso trabalho realmente ser NOSSO. E essa alerta fica mais clara quando o trabalho é apresentado às crianças e elas sentem que os atores sabem o que estão fazendo ou falando. Aí sim o que fazemos parece fazer sentido (em todos os sentidos) em nós, atores pesquisadores.
                Passaram apenas quatro meses de pesquisa, descobertas, crises e gozo, mas já parece uma eternidade. Muita coisa aconteceu. Já rimos, choramos, discutimos, brincamos e crescemos. A dramaturgia já está esboçada, uma releitura singela e bastante significativa do livro “Dorminhoco” da Cleo Busatto. Algumas músicas da Karla Izidro já começam a embalar o nosso sonho, parece um conto de fada. Agora começa uma nova fase, o REFINAMENTO, uma hora parecerá que nada vai dar certo, mas no fim tudo fará sentido, pois trabalhamos, pensamos e discutimos (e muito) para isso. E será LINDO.
Por enquanto quero agradecer a todos os meus companheiros de VIDA: Letícia, Fabiana, Blas, Karla, Julia, João, Kamila, Wal, Roberto, Denize, Deferson, Eduardo, Luthy, Guga e Cezar. NOSSO sonho está apenas no começo e vamos sem pressa amadurecendo e respirando a NOSSA arte, porque o tempo é NOSSO.

domingo, 20 de maio de 2012

O pró-cesso


A Oficina com Wal Mayans

                Iniciamos este processo em fevereiro, com uma oficina de Wal Mayans, de 10 dias. Dez dias de descobertas. Assim como previsto pela Letícia, a oficina deu um gás para o início dos trabalhos, energizou, unificou e motivou o grupo, encantados com o trabalho com um mestre. Foram 10 dias intensos, emocionantes, sofridos. O trabalho do Wal mexe com as estruturas fragilmente acomodadas de nós mesmos, há um confronto brutalmente delicado, não apenas com nossas limitações físicas, evidenciadas nas dores musculares que nos visitavam à noite, mas de maneira mais profunda nos truques sentimentais e psíquicos que nos damos, quando achamos que somos fortes, e pior, quando nos convencemos de que somos fracos. E então somos surpreendidos com o confronto com nossas capacidades, e nossas desculpas caem por terra. As máscaras que colocamos nos joelhos operados, nos corações frágeis, nos pulmões congestionados, nos muitos anos pesando, nos supostos não-consigos, tudo é desmascarado, e temos que encarar o fato de que sim, conseguimos. Acabam-se as desculpas para o não mais tentar. E isso te dá gás. Ou te derruba. É preciso encontrar, então, a coragem, que essa sim precisamos encontrar: coragem para ser o que podemos ser.
               Com o trabalho físico aprendemos a fazer mais combinações com nossas cores, que com algumas primárias e outras secundárias, cada um com o tom que puder, temos uma paleta maior que apenas o arco-íris. Trabalhos com equilíbrio, com bastões, com pinturas, com voz, com latões, com bolas, com água, e que retirando todos esses objetos, acrescentando outros, criamos no final das contas, belas cenas. Isso foi uma das coisas que mais me surpreendeu, a delicadeza e sensibilidade de Wal Mayans em transformar simples sequencias de movimentos, que inicialmente não possuíam intensão nenhuma, em cenas tocantes. De exemplo, uma cena criada a partir das sequencias de direções do Simão e da Denize, ao som baixinho da voz dela cantando Asa Branca, acrescentando Deferson e João marchando de um lado para o outro, resultou em uma emocionante cena de guerra, de um pai tentando proteger sua filha, que se perde em meio às bombas e inocentemente pede um chocolate a um soldado, que a mata com um tiro. Este foi apenas um dos materiais que descobrimos possuir, cito outras cenas: um velório de uma mulher desesperada, um marido infiel e um filho tentando consolar a mãe, que após terminar este rito, se renova com a água para uma outra vida; uma mulher que espera tanto por outro, que final das contas esperava mais pela própria espera, e não o via chegar ao seu lado; uma igreja fervorosa, com um pastor pregando as palavras da Bíblia e realizando exorcismo de uma mulher, e nesta cena Fabiana nos deu uma belíssima sequencia coreográfica, nos dando mostra de seu repertório corporal de mais de 20 anos de exercício de movimentos corporais. 
Nestes 10 dias criamos material que ainda estamos explorando, e criamos ainda mais. Mas mais difícil do que criar material, é seleciona-lo.


Cria-ção
                
        Após definirmos o pré-roteiro começamos então a criar as cenas, a peça. E aí foram muitos jogos, muitas brincadeiras, buscando este estado criança, que particularmente me é um tanto quanto difícil de me disponibilizar para. Terapias à parte, ainda quando criança (típica frase de início de terapia...)eu era muito individualista, gostava dos esportes individuais, dos trabalhos escolares individuais, dos jogos que eu poderia jogar sozinha, do meu quarto de filha (até então) única, meu quarto com meus brinquedos, em que eu poderia fazer o que eu quisesse sem ter que lidar com a inconveniente vontade dos outros de também fazer o que queriam.  E agora, por mais irônico que pareça após esta descrição, faço parte de um grupo. Um grupo, no sentido mais colaborativo possível, em um sentido quase incompreensível para quem não faz parte deste mundo, em um nível mais que familiar. E com este contraste me vêm a vontade de fazer parte disso, de, afinal, me agrupar, fazer parte de algo além de mim mesma, pois eu por eu mesma não faria é nada, devido ao irremediável fato de que o que eu fizer apenas por mim vai morrer junto comigo. E então, para mim, define-se: eu quero ou não quero. Eu quero.
                E aí vem a primeira parte da criação, de improvisações, para ter material para as cenas. Para mim era difícil confiar na diretora, de que aquelas tardes e tardes e tardes [...] e tardes de improvisações resultariam em alguma coisa, qualquer coisa que fosse, não precisava nem ser uma peça. Aí vem a parte de acreditar no grupo, acreditar no trabalho de todas estas pessoas unidas para um objetivo e se dis-po-niii-bii-lii-zar para a criação. De novo, difícil. Apesar de todos os toques, apesar da familiar voz me dizendo “o primeiro passo é mudar a energia e o humor”, era difícil, E não ficou fácil, passei por esta etapa aos trancos e barrancos. Tenho fé de que seja uma dificuldade inicial, resultado da falta de experiência, de vivência, e principalmente na falta de prática nessa tal coisa de grupo. Afinal, no individual é tudo mais fácil, e ficamos mal acostumados em não ter que enfrentar dilemas, não ter que enfrentar confrontos, ninguém nos vê chorar, ninguém faz questão de saber o que você pensa e sente, muito menos isso faz parte do trabalho. Mas afinal das contas, dois meses de diiiis-poo-nii-bii-lii-zação da equipe e conseguimos então, uma peça, com início, meio e fim
                Esta é a atual fase do processo, de organizar os esboços, tirar e acrescentar elementos deste esqueleto chamado “O Dorminhoco”. Agora após todo aquele turbilhão de improvisações e criações, chega a hora do desapego. Algumas de suas idéias serão cortadas, e você tem que aprender a abrir mão delas, novamente, confiar na sensibilidade da diretora, e que por mais que você, paaarticularmente, não goste de tal idéia, se o Grupo gosta você não pode ser destrutivo, mas sim colaborativo, ver o lado bom das coisas, ser positivo, pois idéias novas ainda terão que chegar e você tem que estar diiiiis-pooo-ní-vel para a chegada delas.
               E elas estão chegando, lindas. Como este Grupo tem idéias lindas. O Dorminhoco está chegando, e com o seu crescimento estou aprendendo a trabalhar, pois apesar de ser uma escolha de e para vida, é um trabalho, e assim como o pintor de paredes aprende a pintar as paredes sem sujar todo o chão e o rodapé e as paredes que não devem ser pintadas, o ator também deve aprender a trabalhar sem querer ocupar mais ou menos espaço, mas mesclando seu espaço com o dos outros, e então, colorindo. É o que estamos fazendo agora, colorindo, cada um com suas cores, suas técnicas de pintura, um desenho que já tem seus contornos e deve ser agora preenchido com cores, músicas, palavras, e calor humano.


Escritos pueris. E crus.

Primeiro processo de criação teatral da atriz Kamila Ferrazzi

Primeiros passos e descobertas!

Para falar desse processo tenho que falar um pouco da minha vida, de mim. Pois é tudo tão ligado. Nossa vida, nossa arte, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossa posição, nossos ideais e nossos sonhos. Um completando o outro e assim formamos nossa vida.

A alegria é imensa, é um processo de descobertas, descobrir que é através da arte que eu quero viver, do Teatro, que tem me completado, e me mostrando um sentido para nossas vidas, um sentido de viver para fazer o bem através da nossa arte e do que temos para oferecer, sendo em um simples sorriso, um abraço apertado ou uma palavra cantada.

 Falta técnica, disciplina e muito estudo. Mas não falta amor por esse trabalho, e por cada descoberta que eu venho tendo nessa companhia. Cada ser humano que eu venho conhecendo, com suas qualidades e defeitos. Qualidades que me impulsionam para crescer, melhorar e me desenvolver, e com seus defeitos  que me mostram que são apenas efeitos especiais para que possamos nos lapidar.

Aqui é o lugar onde eu posso me expressar, chorar, amar, sorrir, gritar e cantar. Descobrir quem é a kamila, a kamila de corpo e alma. O que ela é capaz de ser e fazer. O que somos capazes de fazer juntos!  Construir nossos sonhos, ampliar nossos  horizontes e estar a serviço de algo bem maior.  Influenciar o mundo com muita ARTE!

Mas nem tudo  é cor de rosa com florzinha delicadas. Há também espinhos, pedras e as vezes até enormes plantas carnívoras que parecem que vão nos devorar. Ufa!  mas cada uma tem uma função em nossa vida.

 “ no poema e nas nuvens cada qual escolhe o que deseja ver” ( Helena Kolody).  

As vezes espinhos podem servir como nossa proteção, pedras para construir uma linda casa, e plantas carnívoras que não nos fazem mal pois comem apenas insetos.  A vida é como escolhemos ver!   Assim dorminhoco deixa a sua mensagem “ Olhe a vida com outros olhos!”.

“ sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos”. (Willian Shakespeare)

 Em meio a todas as minhas aspirações, há também duvidas crises e dias difíceis. Mas basta querer encarar que elas vão se dissolvendo e se resolvendo no decorrer do processo. Vamos encontrando caminhos e as respostas para as nossas duvidas, que encontro na nossa obra e na preciosidade de cada personagem.

Iniciamos o nosso processo com a vinda do Wal, que  trouxe muitas coisas boas para o nosso grupo. Trabalhamos durante 10 dias teatro físico.

O treinamento do Wal foi de lavar a alma, onde as gotas de suor escorridas pela chão iam nos purificando.

Precisão é a palavra do wal e minha nova busca como atriz.

Utilizamos uma  força bruta interior  mas com uma delicadeza exterior.

O ritual do teatro, tudo é sagrado. O correr de manhã para nos purificar, fazer uma roda nos ajoelhar e começar o trabalho. Fazer com mais amor. E a disciplina que devemos ter.

Preparo físico, fluidez em nossos movimentos, energia em todo o corpo, equilíbrio e entrega.

Corrida, bastão e pulos. E então partimos para a criação de cenas a partir das nossas ações físicas. Que nos deu uma boa base quando iniciamos a criação do  Dorminhoco.

O Wal nos apontou caminhos e nos deu a direção, agora é só praticar praticar praticar...  

Conclusão: PRECISO MELHORAR!

Trabalhamos também por 3 dias, com o Roberto Inocente, teatro de máscara, focando a comédia dell’ arte. Pois tínhamos a ideia de usar algum tipo de máscara no espetáculo. Trabalhamos muito com improvisação, e o  corpo de cada personagem da comedia dell’arte, a utilização da cabeça  e a expressão da nossa boca enquanto utilizamos máscaras.

Trabalhamos também com máscara neutra e as possiblidades do nosso corpo, e como nos comunicamos através do gesto.

E agora temos o esboço do nosso espetáculo! Nutrido, pela experiência do Wal, do Roberto, dos nossos grupos de estudo, filmes, livros, poesias e da experiência  de cada integrante do grupo.

Estamos construindo um espetáculo muito lindo e contagiante.

E agora com a presença da Karlinha, nossa musicista, o Dorminhoco está ganhando um toque especial.

Na oficina com a Karla, trabalhamos com estado de espirito dos personagens.

Ator é CORPO e ALMA. Se for somente corpo torna-se algo mecânico mas quando possui alma ganha vida. Se eu estou triste estou triste não finjo que estou, é o personagem que está triste e não a Kamila. Utilizamos a transposição, transpor os sentimentos que já temos conhecimento para o personagem, que ficará triste não pelo motivo que a kamila está e sim pelo motivo do personagem, por isso a importância do entendimento de cada parte da história e do personagem.  A construção de cada cena. Ai vamos dando vida ao personagem e entendendo o por que de cada olhar, de cada gesto, de cada suspiro e de cada sorriso, buscando o estado de espirito do personagem em cada momento da história. ( ainda estou no inicio dessa construção)

Vivenciar a experiência a cada momento, sentir tudo que o dorminhoco transmite, se não sentir tudo profundamente não tem por que faze-la.

Para a construção do nosso texto que ainda está em processo, tivemos como base também o livro “o que é a vida?”, um livro de filosofia para crianças, trazendo questionamentos, sobre a vida e as diferenças. Tentando mostrar um outro lado para o dorminhoco, sobre as dificuldades que encontramos no caminho. PENSAR E NOS QUESTIONAR.

Assistimos alguns filmes que nos inspiraram, Mic Mac(Direção de Jean Pierre) que podemos usufruir da sua estética e a invenção de objetos que os personagens da trama constroem, recriando inventos com sucatas e objetos aparentemente insignificante. Que é uma das propostas do nosso espetáculo, com a utilização de latas, latinhas e latões, ressignificando-os.

“Waking Life” foi outro filme que assistimos, Que faz um questionamento, se estamos feito sonâmbulos quando estamos acordados ou  estamos conscientes enquanto sonhamos?  É uma das reflexões que buscamos fazer em nosso espetáculo, de uma maneira brincante e contagiante. Acordar para sonhar.

Vimos então o filme “Ponte Para Terabitia”, inspirado na literatura “O Segredo de Terabítia. O filme conta a história de um menino muito tímido e solitário que sofre bullying na escola,até que conhece Lesly uma menina também rejeitada pelos colegas por ser “esquisita”.Com a imaginação de lesly e os desenhos do menino, acabam criando Terabítia, uma terra apenas para eles dois, que com suas imaginações criam um mundo de fantasias, onde conseguem resolver seus problemas da escola e enfrentar seu medos. Com esse filme podemos indentificar um pouco da história de Dorminhoco, um menino que atrvés do seu sonho e seus pensamentos busca a resolução de suas “crises”.

 Na cultura oriental é falado sobre os  véus, a ignorancia, raiva, orgulho, o ciumes, a paixão e o medo. Ao removermos esses véus nos encontramos com a essencia pura de nosso ser,nossa alma.  Em meu ver dorminhoco busca por esse encontro, enfrentando seus medos em cada circunstancia que lhe é dada, reconhecendo seu erros e então removendo esses véus,se tornando um garoto feliz por ser o que é.

Em busca da criança interior...

No inicio do processo, fizemos muitas brincadeiras de criança, pega-pega, esconde-esconde-gato mia, pular corda, pular elástico, bola, ciranda... foi como um resgate, aquela vontade de bater o trinta e um, aquele medo que alguém te ache naquele super esconderijo, a busca pela diversão. A energia da criança que brinca brica e não cansa nuca.

Nesse processo de construção de um espetáculo para Criança, precisamos conhecer a nossa criança interior, ou melhor reconhecer o que já existe dentro de nós. Nos conectar com essa criança é trazer vida ao espetáculo, é se encantar com o mundo, e descobrir o novo, achar graça e vida naquilo que parecia não ter importância.

Nesse processo quero resgatar minha criança e então cuidar dela com todo o amor de que formos capazes de traze-la de volta para nossa vida, para que com ela recuperemos a leveza, a pureza, a capacidade de acreditar, criar, brincar e crescer. A vida sem essa criança torna-se um jardim ressecado e estéril. Falta vida, falta alegria, falta sonhos e falta amor.

Nem sempre é fácil encontrar esse criança, pois é preciso um mergulho  dentro do nosso coração, as vezes não temos contato com a nossa criança por tanto tempo que ela se esconde bem fundo...mas ela está lá, sempre estará esperando por NÓS. Vamos recupera-la para uma vida com mais cores e sabores.

Trabalhar em grupo é uma virtude...

Nesse processo de criação coletiva tenho pensado muito em três palavras,  Humildade, Disciplina e Honestidade.

 Humildade pois não estamos no palco somente por vaidade ou por um ego exacerbado, e sim a serviço de. Humildade para crescer com o grupo e não querer ser melhor que o outro. Humildade para aprender aquilo que achávamos que sabíamos. Disciplina (difíciiiiil, mas não impossível) praticar todos os dias tanto o físico como o intelecto, como um ritual.  Estar presente de corpo e alma em cena. E honestidade comigo mesma, com o grupo e com a obra. A todo o momento, fora ou dentro da cena.

Trabalhar em grupo exige um querer positivo de cada um. É meu primeiro grupo e sinto que tenho muito o que melhorar, trabalhar a cada dia, nos colocar com garra, ter compromisso, delicadeza e respeito mutuo entre o grupo, ser mais paciente e tolerante, ter maturidade e autonomia, um maior posicionamento,  amor pelo trabalho e abertura para ouvir as críticas.

Estou amando essa experiência de grupo. Nem sempre é só harmonia, existem os desentendimentos e discussões, mas acontecem nas melhores famílias.  Temos opiniões diferentes e somos diferentes, cada um é cada um, não precisamos concordar em tudo, apenas nas coisas mais importantes, o que nos une enquanto grupo, o nossos proposito com o teatro e o acreditar nesse ideal. Preservar o que é sagrado, a confiança em cada um do grupo, a sinceridade e o amor um pelo outro.

A criação de um espetáculo tem sido linda e muito importante para o meu desenvolvimento, tem sido importante para minha VIDA. Muitos processos vão se abrindo, muitos sentimentos se aflorando como se fosse um intenso turbilhão, algumas fichas vão caindo, e esse momento deve ser preservado para que realmente possamos crescer enquanto atores e pessoas.

 Estar com o coração aberto e os ouvidos atentos para as perolas que recebemos a cada dia de ensaio. “Estar atenta as preciosidades que a vida nos oferece.” (Leticia Guimarães)

Gratidão é a memoria do coração já dizia uma sábia diretora.

Gratidão a cada um dos abraçadinhos que me envolvem nessa arte e me possibilitam um espaço de sonho. Que possamos crescer juntos nos desenvolver junto e criar juntos, preservando o sagrado nas nossas relações, para que sempre seja maior do que qualquer desentendimento. Que possamos oferecer um ao outro o que temos de melhor, e assim a vida nos retribuirá com o que ela possui de melhor.

Por hora é isso, desculpa falar tanto mas é que preciso colocar tudo pra fora pra então ir organizando tudo dentro de mim.

Mas tem muita estrada pela frente, muito treino, muito estudo, muita prática e muita entrega. Agora começo um estudo mais profundo do personagem Dorminhoco e em breve posto para vocês, fica em baixo um versinho que escrevi, nessa busca pela nossa missão.

A missão é seguir, a missão é sentir só assim vou descobrir que missão devo cumprir. Esse processo quero entender, pra poder me conhecer, entrar no meu coração, Ativar minha emoção tendo plena compreensão do que eu faço com a minha mão nesse mundo tão grandão.

O coração vai bater, um sorriso aparecer e algumas lagrimas vão escorrer. Sim é isso que devo fazer...é isso que eu amo fazer. É o que vim pra fazer. Vida vida vida minha o que posso fazer? Se é isso que devo seguir me ensina então a servir, com carinho e devoção e muito amor no coração. Com  a arte eu quero aprender na arte eu quero viver da arte eu quero compreender. A arte eu quero ser. Vida vida vida minha deixa em mim a arte nascer, vida vida vida minha deixe em mim a arte crescer”

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Inspirações...


“Um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. (Raul Seixas)

A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem das suas derrotas. 
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem pensa:
O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo [...]

Manoel de Barros

O Dom de Sonhar
A esperança engana
Mente o sonho
Eu sei.
Que mentiras lindas contei para mim...

Significado
No poema
e nas nuvens
cada qual  descobre
o que deseja ver

Invenção
Inventou uma lua cheia.
Clareia a noite em mim.

Sou outra
Quando sonho,sou outra.
Inauguro-me

 Helena Kolody

Dever de Sonhar 

Eu tenho uma espécie de dever, dever de sonhar, de sonhar sempre, 
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo, 
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. 
E, assim, me construo a ouro e sedas, em salas 
supostas, invento palco, cenário para viver o meu sonho 
entre luzes brandas e músicas invisíveis

Fernando Pessoa

Há quem diga que todas as noites são de sonhos. 
Mas há também quem garanta que nem todas, só as de verão. No fundo, isto não tem muita importância. 
O que interessa mesmo não é a noite em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado. 

Willian Shakespeare

O sonho encheu a noite
Extravasou pro meu dia
Encheu minha vida
E é dele que eu vou viver
Porque sonho não morre.

Adélia Prado

Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado. 

Roberto Shinyashiki




O dia da sua criança

Uma mensagem especial para a criança do adulto


                                                                                                            William Rezende Araújo
 Na vida da maioria das pessoas adultas são raros os momentos que foram verdadeiramente bons, alegres, positivos, elevados, cheios de amor e prazer. Esquecemos em algum ponto do passado essa capacidade de sentir de fato, porque nos ensinaram que ser adulto e atingir a maturidade, exige reduzir aquela vibração única e carregada de genuína energia jovial que nos torna espontâneos e que é capaz de iluminar e trazer plenitude à vida em todos os momentos dela. Crescemos e curvamo-nos sob o peso de uma imensa carga de regras, obrigações e preconceitos e enterramos a única coisa verdadeiramente viva em nós que é o tesouro de nossa criança. Mergulhamos então de cabeça, perseguindo outros valores, como: saber, poder, bens materiais e status social sem percebermos que no fundo queremos reencontrar, porém pelos caminhos mais difíceis, aqueles mesmos momentos prazerosos que inundavam a infância e que eram tão fáceis de experienciar sem exigir nenhum esforço. Na luta para ter nós não conseguimos ser e quase nunca encontramos aquela alegria profunda, aquela felicidade inocente e pura, aquela paz suave e repousante e aquela harmonia com o mundo e a vida. Quase todos acabam por se conformar, considerando que esse é o destino de todos e que aqueles bons sentimentos só existem na infância. Mas isto não é verdadeiro de forma alguma! Se você sentiu tantas coisas tão boas então aquilo é real e pode ser resgatado. Tenha certeza de que, não o importa a idade, cada um de nós conserva uma criança escondida no mais profundo do ser clamando para ser ouvida e atendida. Como disse Jung: "em todo adulto espreita uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo e ela representa a mais poderosa e inelutável ânsia em cada ser humano, ou seja, a ânsia de realizar a si próprio" . E que bom que seja assim! Os grandes homens sabiam dessa verdade, seja Jesus ou um Albert Einsten. Eles aprenderam a resgatar a própria criança interior e viviam a vida através dela. "Vinde a mim as criancinhas" não se refere às crianças reais, mas sim as crianças que habitam os adultos. Vinde a mim a pureza, inocência, prazer e alegria de viver que ainda se esconde nesse corpo adulto e adulterado pelo seus valores. Resgate aquelas características pois elas são o único caminho para celebrar a vida e ascender espiritualmente. Vinde a sua criança não contaminada pelo seu adulto.
Se não fossem os sonhos dessas crianças dos grandes realizadores ainda estaríamos nas cavernas! O racional, o adulto, apenas torna real aquilo que nasceu na fantasia da criança interior. Foi ela quem imaginou e sentiu o desejo de andar mais rápido que os animais, de voar como os pássaros, de falar com pessoas distantes e por isso o homem inventou a roda, os veículos, o avião, o telefone, o rádio, a TV... Sem o prodígio da imaginação dessas crianças nada existiria.
Resgatar essa criança interna é, na verdade, arrebentar com as grades da prisões que nós mesmos nos impusemos. É encontrar a única e verdadeira liberdade que é libertar-se de si mesmo e das algemas criadas pelo adulto racional, lógico e sufocante que nos tornamos. O prêmio àqueles que o fizerem é redescobrir o entusiasmo e coragem na vida. É libertar a curiosidade e capacidade de explorar. É saborear com profundidade e emoção cada minuto vivido. É expandir-se e explodir em exuberância. É sentir prazer e alegria. É voltar a ser radiante e criativo, inspirado e inspirador. É aproveitar todo o seu potencial. É irradiar e compartilhar tudo de bom que você é. É sentir de uma maneira palpitante a beleza que é estar vivo. É ser ao mesmo tempo sensível e extremamente forte. É descobrir novas e surpreendentes soluções para velhos problemas. É encontrar a verdadeira fonte da juventude e frescor. É renascer e se renovar a cada dia e é, finalmente, encontrar um sentido para a própria vida.
 E essa criança não é apenas uma lembrança distante de sua história de vida. Ela sempre esteve presente dentro de você, quase sempre adormecida, às vezes escondida, mas está lá, como um ser real que é . No dia da criança, dê o maior presente para a sua própria criança interior, descobrindo-a e oferecendo-lhe atenção, carinho e amor. Escute com atenção o que esta voz tem a lhe dizer, porque o verdadeiro crescimento enquanto ser humano se faz a partir de uma criança positiva e saudável.
 Faça de cada dia de sua vida o dia da sua criança e descubra finalmente o prazer de saborear cada minuto vivido. Solte a sua criança positiva interior porque ela sabe qual é o caminho para você ser feliz, caminho que o status, diplomas, poder e bens materiais jamais levam.



segunda-feira, 7 de maio de 2012

Um Retrocesso Para Avançar


Começamos o processo (institucionalmente falando) no dia 30 de Janeiro onde todos expomos nossas vontades e desejos de como seria a peça e esboçamos nossa primeiro "concepção" do espetáculo.
Alguns dias depois (poucos, por sinal) recebemos a visita do nosso grande amigo Wal Mayans, fizemos 10 dias de oficina com ela para aprimorarmos técnica e nos integrarmos mais como grupo, simplesmente fantástico.
Pouco tempo após a ida do Wal começamos os ensaios de criação com um trabalho mais voltado para o corpo seguindo uma estética não-naturalista, que eu confesso, foi e é onde eu mais tenho dificuldade em todo o processo. Ao mesmo tempo tivemos uma oficina com Roberto Inocente praticamente junto com o início dos ensaios, onde aprendemos mais sobre a utilização de máscaras.
Passamos por toda uma criação de personagem e de composição coreográfica onde fomos do sonhos aos pesadelos, esculpimos uma obra, que ainda que grosseira, foi esculpida a... não sei, 26 mãos? Onde podemos ver em cada pedaço dessa obra um pequeno pedaço de nós, de nossos anseios, vontades e desejos que tínhamos para o Dorminhoco NAQUELA Reunião ocorrida a 98 dias atrás (quanto tempo, jesus amado). Lógico que nem tudo foi lindo e maravilhoso, tivemos brigas, discussões, crises, choros, e muito mais nesse processo, e agora, parando para pensar, vejo que todas foram necessárias, nossos "sofrimentos" e "desilusões" também estão impressos na obra, mas isso não quer dizer que ela esteja triste, melancólica e horrorosa, isso a torna humana.
E agora temos ainda mais coisas, a Karlinha vem com nossas músicas, o Eduardo com nosso figurino, o Blás arrasando com o nosso cenário, o Guga e os nossos adereços, o Anry iluminando o nosso caminho, puxa, quanta gente...
Pois é, ainda faltam 81 dias para terminarmos essa etapa do processo, ainda precisamos "limpar" a nossa escultura que ainda está "grosseira" e "inacabada", mas, aos meus olhos, mesmo ainda sendo rústica, nossa obra já está linda e quando finalizarmos ela ficará... não digo perfeita, mas digo bela, de uma beleza que vai além da estética, de uma beleza que está dentro de todos nós, só precisamos deixar o Dorminhoco que existe dentro de cada um acordar para os sonhos e para vida.

Vamos Dorminhocos, acordem e desejem a todos que ainda dormem na realidade: "BONS SONHOS"!