Primeiro processo de
criação teatral da atriz Kamila Ferrazzi
Primeiros passos e
descobertas!
Para falar desse
processo tenho que falar um pouco da minha vida, de mim. Pois é tudo tão
ligado. Nossa vida, nossa arte, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossa
posição, nossos ideais e nossos sonhos. Um completando o outro e assim formamos
nossa vida.
A alegria é imensa,
é um processo de descobertas, descobrir que é através da arte que eu quero
viver, do Teatro, que tem me completado, e me mostrando um sentido para nossas
vidas, um sentido de viver para fazer o bem através da nossa arte e do que
temos para oferecer, sendo em um simples sorriso, um abraço apertado ou uma
palavra cantada.
Falta técnica, disciplina e muito estudo. Mas
não falta amor por esse trabalho, e por cada descoberta que eu venho tendo
nessa companhia. Cada ser humano que eu venho conhecendo, com suas qualidades e
defeitos. Qualidades que me impulsionam para crescer, melhorar e me
desenvolver, e com seus defeitos que me
mostram que são apenas efeitos especiais para que possamos nos lapidar.
Aqui é o lugar onde
eu posso me expressar, chorar, amar, sorrir, gritar e cantar. Descobrir quem é
a kamila, a kamila de corpo e alma. O que ela é capaz de ser e fazer. O que
somos capazes de fazer juntos! Construir
nossos sonhos, ampliar nossos horizontes
e estar a serviço de algo bem maior.
Influenciar o mundo com muita ARTE!
Mas nem tudo é cor de rosa com florzinha delicadas. Há
também espinhos, pedras e as vezes até enormes plantas carnívoras que parecem
que vão nos devorar. Ufa! mas cada uma
tem uma função em nossa vida.
“ no
poema e nas nuvens cada qual escolhe o que deseja ver” ( Helena Kolody).
As vezes espinhos
podem servir como nossa proteção, pedras para construir uma linda casa, e
plantas carnívoras que não nos fazem mal pois comem apenas insetos. A vida é como escolhemos ver! Assim
dorminhoco deixa a sua mensagem “ Olhe a vida com outros olhos!”.
“ sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito
que temos”. (Willian Shakespeare)
Em meio a todas as minhas aspirações, há
também duvidas crises e dias difíceis. Mas basta querer encarar que elas vão se
dissolvendo e se resolvendo no decorrer do processo. Vamos encontrando caminhos
e as respostas para as nossas duvidas, que encontro na nossa obra e na
preciosidade de cada personagem.
Iniciamos o nosso
processo com a vinda do Wal, que trouxe
muitas coisas boas para o nosso grupo. Trabalhamos durante 10 dias teatro
físico.
O treinamento do Wal
foi de lavar a alma, onde as gotas de suor escorridas pela chão iam nos purificando.
Precisão é a palavra
do wal e minha nova busca como atriz.
Utilizamos uma força bruta interior mas com uma delicadeza exterior.
O ritual do teatro,
tudo é sagrado. O correr de manhã para nos purificar, fazer uma roda nos
ajoelhar e começar o trabalho. Fazer com mais amor. E a disciplina que devemos
ter.
Preparo físico,
fluidez em nossos movimentos, energia em todo o corpo, equilíbrio e entrega.
Corrida, bastão e
pulos. E então partimos para a criação de cenas a partir das nossas ações
físicas. Que nos deu uma boa base quando iniciamos a criação do Dorminhoco.
O Wal nos apontou
caminhos e nos deu a direção, agora é só praticar praticar praticar...
Conclusão: PRECISO
MELHORAR!
Trabalhamos também
por 3 dias, com o Roberto Inocente, teatro de máscara, focando a comédia dell’
arte. Pois tínhamos a ideia de usar algum tipo de máscara no espetáculo.
Trabalhamos muito com improvisação, e o corpo
de cada personagem da comedia dell’arte, a utilização da cabeça e a expressão da nossa boca enquanto
utilizamos máscaras.
Trabalhamos também
com máscara neutra e as possiblidades do nosso corpo, e como nos comunicamos
através do gesto.
E agora temos o
esboço do nosso espetáculo! Nutrido, pela experiência do Wal, do Roberto, dos
nossos grupos de estudo, filmes, livros, poesias e da experiência de cada integrante do grupo.
Estamos construindo
um espetáculo muito lindo e contagiante.
E agora com a
presença da Karlinha, nossa musicista, o Dorminhoco está ganhando um toque
especial.
Na oficina com a
Karla, trabalhamos com estado de espirito dos personagens.
Ator é CORPO e ALMA.
Se for somente corpo torna-se algo mecânico mas quando possui alma ganha vida.
Se eu estou triste estou triste não finjo que estou, é o personagem que está
triste e não a Kamila. Utilizamos a transposição, transpor os sentimentos que
já temos conhecimento para o personagem, que ficará triste não pelo motivo que
a kamila está e sim pelo motivo do personagem, por isso a importância do
entendimento de cada parte da história e do personagem. A construção de cada cena. Ai vamos dando
vida ao personagem e entendendo o por que de cada olhar, de cada gesto, de cada
suspiro e de cada sorriso, buscando o estado de espirito do personagem em cada
momento da história. ( ainda estou no inicio dessa construção)
Vivenciar a
experiência a cada momento, sentir tudo que o dorminhoco transmite, se não
sentir tudo profundamente não tem por que faze-la.
Para a construção do
nosso texto que ainda está em processo, tivemos como base também o livro “o que
é a vida?”, um livro de filosofia para crianças, trazendo questionamentos,
sobre a vida e as diferenças. Tentando mostrar um outro lado para o dorminhoco,
sobre as dificuldades que encontramos no caminho. PENSAR E NOS QUESTIONAR.
Assistimos alguns
filmes que nos inspiraram, Mic Mac(Direção de Jean Pierre) que podemos usufruir
da sua estética e a invenção de objetos que os personagens da trama constroem,
recriando inventos com sucatas e objetos aparentemente insignificante. Que é
uma das propostas do nosso espetáculo, com a utilização de latas, latinhas e
latões, ressignificando-os.
“Waking Life” foi
outro filme que assistimos, Que faz um questionamento, se estamos feito
sonâmbulos quando estamos acordados ou estamos conscientes enquanto sonhamos? É uma das reflexões que buscamos fazer em
nosso espetáculo, de uma maneira brincante e contagiante. Acordar para sonhar.
Vimos então o filme “Ponte
Para Terabitia”, inspirado na literatura “O Segredo de Terabítia. O filme conta
a história de um menino muito tímido e solitário que sofre bullying na
escola,até que conhece Lesly uma menina também rejeitada pelos colegas por ser
“esquisita”.Com a imaginação de lesly e os desenhos do menino, acabam criando Terabítia, uma terra apenas para eles
dois, que com suas imaginações criam um mundo de fantasias, onde conseguem
resolver seus problemas da escola e enfrentar seu medos. Com esse filme podemos
indentificar um pouco da história de Dorminhoco, um menino que atrvés do seu
sonho e seus pensamentos busca a resolução de suas “crises”.
Na cultura oriental é falado sobre
os véus, a ignorancia, raiva, orgulho, o ciumes, a paixão e o medo. Ao
removermos esses véus nos encontramos com a essencia pura de nosso ser,nossa
alma. Em meu ver dorminhoco busca por
esse encontro, enfrentando seus medos em cada circunstancia que lhe é dada,
reconhecendo seu erros e então removendo esses véus,se tornando um garoto feliz
por ser o que é.
Em busca da criança
interior...
No inicio do
processo, fizemos muitas brincadeiras de criança, pega-pega,
esconde-esconde-gato mia, pular corda, pular elástico, bola, ciranda... foi
como um resgate, aquela vontade de bater o trinta e um, aquele medo que alguém
te ache naquele super esconderijo, a busca pela diversão. A energia da criança
que brinca brica e não cansa nuca.
Nesse processo de
construção de um espetáculo para Criança, precisamos conhecer a nossa criança
interior, ou melhor reconhecer o que já existe dentro de nós. Nos conectar com
essa criança é trazer vida ao espetáculo, é se encantar com o mundo, e
descobrir o novo, achar graça e vida naquilo que parecia não ter importância.
Nesse processo quero
resgatar minha criança e então cuidar dela com todo o amor de que formos
capazes de traze-la de volta para nossa vida, para que com ela recuperemos a
leveza, a pureza, a capacidade de acreditar, criar, brincar e crescer. A vida
sem essa criança torna-se um jardim ressecado e estéril. Falta vida, falta
alegria, falta sonhos e falta amor.
Nem sempre é fácil
encontrar esse criança, pois é preciso um mergulho dentro do nosso coração, as vezes não temos
contato com a nossa criança por tanto tempo que ela se esconde bem fundo...mas
ela está lá, sempre estará esperando por NÓS. Vamos recupera-la para uma vida
com mais cores e sabores.
Trabalhar em grupo é
uma virtude...
Nesse processo de
criação coletiva tenho pensado muito em três palavras, Humildade, Disciplina e Honestidade.
Humildade pois não estamos no palco somente
por vaidade ou por um ego exacerbado, e sim a serviço de. Humildade para
crescer com o grupo e não querer ser melhor que o outro. Humildade para
aprender aquilo que achávamos que sabíamos. Disciplina (difíciiiiil, mas não impossível)
praticar todos os dias tanto o físico como o intelecto, como um ritual. Estar presente de corpo e alma em cena. E honestidade
comigo mesma, com o grupo e com a obra. A todo o momento, fora ou dentro da
cena.
Trabalhar em grupo
exige um querer positivo de cada um. É meu primeiro grupo e sinto que tenho
muito o que melhorar, trabalhar a cada dia, nos colocar com garra, ter
compromisso, delicadeza e respeito mutuo entre o grupo, ser mais paciente e
tolerante, ter maturidade e autonomia, um maior posicionamento, amor pelo trabalho e abertura para ouvir as
críticas.
Estou amando essa experiência
de grupo. Nem sempre é só harmonia, existem os desentendimentos e discussões,
mas acontecem nas melhores famílias. Temos opiniões diferentes e somos diferentes,
cada um é cada um, não precisamos concordar em tudo, apenas nas coisas mais
importantes, o que nos une enquanto grupo, o nossos proposito com o teatro e o
acreditar nesse ideal. Preservar o que é sagrado, a confiança em cada um do
grupo, a sinceridade e o amor um pelo outro.
A criação de um
espetáculo tem sido linda e muito importante para o meu desenvolvimento, tem
sido importante para minha VIDA. Muitos processos vão se abrindo, muitos
sentimentos se aflorando como se fosse um intenso turbilhão, algumas fichas vão
caindo, e esse momento deve ser preservado para que realmente possamos crescer
enquanto atores e pessoas.
Estar com o coração aberto e os ouvidos
atentos para as perolas que recebemos a cada dia de ensaio. “Estar atenta as
preciosidades que a vida nos oferece.” (Leticia Guimarães)
Gratidão é a memoria
do coração já dizia uma sábia diretora.
Gratidão a cada um
dos abraçadinhos que me envolvem nessa arte e me possibilitam um espaço de
sonho. Que possamos crescer juntos nos desenvolver junto e criar juntos,
preservando o sagrado nas nossas relações, para que sempre seja maior do que
qualquer desentendimento. Que possamos oferecer um ao outro o que temos de
melhor, e assim a vida nos retribuirá com o que ela possui de melhor.
Por hora é isso,
desculpa falar tanto mas é que preciso colocar tudo pra fora pra então ir organizando
tudo dentro de mim.
Mas tem muita estrada
pela frente, muito treino, muito estudo, muita prática e muita entrega. Agora
começo um estudo mais profundo do personagem Dorminhoco e em breve posto para
vocês, fica em baixo um versinho que escrevi, nessa busca pela nossa missão.
“A missão é seguir,
a missão é sentir só assim vou descobrir que missão devo cumprir. Esse processo
quero entender, pra poder me conhecer, entrar no meu coração, Ativar minha
emoção tendo plena compreensão do que eu faço com a minha mão nesse mundo tão
grandão.
O coração vai bater,
um sorriso aparecer e algumas lagrimas vão escorrer. Sim é isso que devo
fazer...é isso que eu amo fazer. É o que vim pra fazer. Vida vida vida minha o
que posso fazer? Se é isso que devo seguir me ensina então a servir, com
carinho e devoção e muito amor no coração. Com
a arte eu quero aprender na arte eu quero viver da arte eu quero
compreender. A arte eu quero ser. Vida vida vida minha deixa em mim a arte
nascer, vida vida vida minha deixe em mim a arte crescer”
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