domingo, 20 de maio de 2012


Primeiro processo de criação teatral da atriz Kamila Ferrazzi

Primeiros passos e descobertas!

Para falar desse processo tenho que falar um pouco da minha vida, de mim. Pois é tudo tão ligado. Nossa vida, nossa arte, nossa casa, nossa família, nossos amigos, nossa posição, nossos ideais e nossos sonhos. Um completando o outro e assim formamos nossa vida.

A alegria é imensa, é um processo de descobertas, descobrir que é através da arte que eu quero viver, do Teatro, que tem me completado, e me mostrando um sentido para nossas vidas, um sentido de viver para fazer o bem através da nossa arte e do que temos para oferecer, sendo em um simples sorriso, um abraço apertado ou uma palavra cantada.

 Falta técnica, disciplina e muito estudo. Mas não falta amor por esse trabalho, e por cada descoberta que eu venho tendo nessa companhia. Cada ser humano que eu venho conhecendo, com suas qualidades e defeitos. Qualidades que me impulsionam para crescer, melhorar e me desenvolver, e com seus defeitos  que me mostram que são apenas efeitos especiais para que possamos nos lapidar.

Aqui é o lugar onde eu posso me expressar, chorar, amar, sorrir, gritar e cantar. Descobrir quem é a kamila, a kamila de corpo e alma. O que ela é capaz de ser e fazer. O que somos capazes de fazer juntos!  Construir nossos sonhos, ampliar nossos  horizontes e estar a serviço de algo bem maior.  Influenciar o mundo com muita ARTE!

Mas nem tudo  é cor de rosa com florzinha delicadas. Há também espinhos, pedras e as vezes até enormes plantas carnívoras que parecem que vão nos devorar. Ufa!  mas cada uma tem uma função em nossa vida.

 “ no poema e nas nuvens cada qual escolhe o que deseja ver” ( Helena Kolody).  

As vezes espinhos podem servir como nossa proteção, pedras para construir uma linda casa, e plantas carnívoras que não nos fazem mal pois comem apenas insetos.  A vida é como escolhemos ver!   Assim dorminhoco deixa a sua mensagem “ Olhe a vida com outros olhos!”.

“ sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos”. (Willian Shakespeare)

 Em meio a todas as minhas aspirações, há também duvidas crises e dias difíceis. Mas basta querer encarar que elas vão se dissolvendo e se resolvendo no decorrer do processo. Vamos encontrando caminhos e as respostas para as nossas duvidas, que encontro na nossa obra e na preciosidade de cada personagem.

Iniciamos o nosso processo com a vinda do Wal, que  trouxe muitas coisas boas para o nosso grupo. Trabalhamos durante 10 dias teatro físico.

O treinamento do Wal foi de lavar a alma, onde as gotas de suor escorridas pela chão iam nos purificando.

Precisão é a palavra do wal e minha nova busca como atriz.

Utilizamos uma  força bruta interior  mas com uma delicadeza exterior.

O ritual do teatro, tudo é sagrado. O correr de manhã para nos purificar, fazer uma roda nos ajoelhar e começar o trabalho. Fazer com mais amor. E a disciplina que devemos ter.

Preparo físico, fluidez em nossos movimentos, energia em todo o corpo, equilíbrio e entrega.

Corrida, bastão e pulos. E então partimos para a criação de cenas a partir das nossas ações físicas. Que nos deu uma boa base quando iniciamos a criação do  Dorminhoco.

O Wal nos apontou caminhos e nos deu a direção, agora é só praticar praticar praticar...  

Conclusão: PRECISO MELHORAR!

Trabalhamos também por 3 dias, com o Roberto Inocente, teatro de máscara, focando a comédia dell’ arte. Pois tínhamos a ideia de usar algum tipo de máscara no espetáculo. Trabalhamos muito com improvisação, e o  corpo de cada personagem da comedia dell’arte, a utilização da cabeça  e a expressão da nossa boca enquanto utilizamos máscaras.

Trabalhamos também com máscara neutra e as possiblidades do nosso corpo, e como nos comunicamos através do gesto.

E agora temos o esboço do nosso espetáculo! Nutrido, pela experiência do Wal, do Roberto, dos nossos grupos de estudo, filmes, livros, poesias e da experiência  de cada integrante do grupo.

Estamos construindo um espetáculo muito lindo e contagiante.

E agora com a presença da Karlinha, nossa musicista, o Dorminhoco está ganhando um toque especial.

Na oficina com a Karla, trabalhamos com estado de espirito dos personagens.

Ator é CORPO e ALMA. Se for somente corpo torna-se algo mecânico mas quando possui alma ganha vida. Se eu estou triste estou triste não finjo que estou, é o personagem que está triste e não a Kamila. Utilizamos a transposição, transpor os sentimentos que já temos conhecimento para o personagem, que ficará triste não pelo motivo que a kamila está e sim pelo motivo do personagem, por isso a importância do entendimento de cada parte da história e do personagem.  A construção de cada cena. Ai vamos dando vida ao personagem e entendendo o por que de cada olhar, de cada gesto, de cada suspiro e de cada sorriso, buscando o estado de espirito do personagem em cada momento da história. ( ainda estou no inicio dessa construção)

Vivenciar a experiência a cada momento, sentir tudo que o dorminhoco transmite, se não sentir tudo profundamente não tem por que faze-la.

Para a construção do nosso texto que ainda está em processo, tivemos como base também o livro “o que é a vida?”, um livro de filosofia para crianças, trazendo questionamentos, sobre a vida e as diferenças. Tentando mostrar um outro lado para o dorminhoco, sobre as dificuldades que encontramos no caminho. PENSAR E NOS QUESTIONAR.

Assistimos alguns filmes que nos inspiraram, Mic Mac(Direção de Jean Pierre) que podemos usufruir da sua estética e a invenção de objetos que os personagens da trama constroem, recriando inventos com sucatas e objetos aparentemente insignificante. Que é uma das propostas do nosso espetáculo, com a utilização de latas, latinhas e latões, ressignificando-os.

“Waking Life” foi outro filme que assistimos, Que faz um questionamento, se estamos feito sonâmbulos quando estamos acordados ou  estamos conscientes enquanto sonhamos?  É uma das reflexões que buscamos fazer em nosso espetáculo, de uma maneira brincante e contagiante. Acordar para sonhar.

Vimos então o filme “Ponte Para Terabitia”, inspirado na literatura “O Segredo de Terabítia. O filme conta a história de um menino muito tímido e solitário que sofre bullying na escola,até que conhece Lesly uma menina também rejeitada pelos colegas por ser “esquisita”.Com a imaginação de lesly e os desenhos do menino, acabam criando Terabítia, uma terra apenas para eles dois, que com suas imaginações criam um mundo de fantasias, onde conseguem resolver seus problemas da escola e enfrentar seu medos. Com esse filme podemos indentificar um pouco da história de Dorminhoco, um menino que atrvés do seu sonho e seus pensamentos busca a resolução de suas “crises”.

 Na cultura oriental é falado sobre os  véus, a ignorancia, raiva, orgulho, o ciumes, a paixão e o medo. Ao removermos esses véus nos encontramos com a essencia pura de nosso ser,nossa alma.  Em meu ver dorminhoco busca por esse encontro, enfrentando seus medos em cada circunstancia que lhe é dada, reconhecendo seu erros e então removendo esses véus,se tornando um garoto feliz por ser o que é.

Em busca da criança interior...

No inicio do processo, fizemos muitas brincadeiras de criança, pega-pega, esconde-esconde-gato mia, pular corda, pular elástico, bola, ciranda... foi como um resgate, aquela vontade de bater o trinta e um, aquele medo que alguém te ache naquele super esconderijo, a busca pela diversão. A energia da criança que brinca brica e não cansa nuca.

Nesse processo de construção de um espetáculo para Criança, precisamos conhecer a nossa criança interior, ou melhor reconhecer o que já existe dentro de nós. Nos conectar com essa criança é trazer vida ao espetáculo, é se encantar com o mundo, e descobrir o novo, achar graça e vida naquilo que parecia não ter importância.

Nesse processo quero resgatar minha criança e então cuidar dela com todo o amor de que formos capazes de traze-la de volta para nossa vida, para que com ela recuperemos a leveza, a pureza, a capacidade de acreditar, criar, brincar e crescer. A vida sem essa criança torna-se um jardim ressecado e estéril. Falta vida, falta alegria, falta sonhos e falta amor.

Nem sempre é fácil encontrar esse criança, pois é preciso um mergulho  dentro do nosso coração, as vezes não temos contato com a nossa criança por tanto tempo que ela se esconde bem fundo...mas ela está lá, sempre estará esperando por NÓS. Vamos recupera-la para uma vida com mais cores e sabores.

Trabalhar em grupo é uma virtude...

Nesse processo de criação coletiva tenho pensado muito em três palavras,  Humildade, Disciplina e Honestidade.

 Humildade pois não estamos no palco somente por vaidade ou por um ego exacerbado, e sim a serviço de. Humildade para crescer com o grupo e não querer ser melhor que o outro. Humildade para aprender aquilo que achávamos que sabíamos. Disciplina (difíciiiiil, mas não impossível) praticar todos os dias tanto o físico como o intelecto, como um ritual.  Estar presente de corpo e alma em cena. E honestidade comigo mesma, com o grupo e com a obra. A todo o momento, fora ou dentro da cena.

Trabalhar em grupo exige um querer positivo de cada um. É meu primeiro grupo e sinto que tenho muito o que melhorar, trabalhar a cada dia, nos colocar com garra, ter compromisso, delicadeza e respeito mutuo entre o grupo, ser mais paciente e tolerante, ter maturidade e autonomia, um maior posicionamento,  amor pelo trabalho e abertura para ouvir as críticas.

Estou amando essa experiência de grupo. Nem sempre é só harmonia, existem os desentendimentos e discussões, mas acontecem nas melhores famílias.  Temos opiniões diferentes e somos diferentes, cada um é cada um, não precisamos concordar em tudo, apenas nas coisas mais importantes, o que nos une enquanto grupo, o nossos proposito com o teatro e o acreditar nesse ideal. Preservar o que é sagrado, a confiança em cada um do grupo, a sinceridade e o amor um pelo outro.

A criação de um espetáculo tem sido linda e muito importante para o meu desenvolvimento, tem sido importante para minha VIDA. Muitos processos vão se abrindo, muitos sentimentos se aflorando como se fosse um intenso turbilhão, algumas fichas vão caindo, e esse momento deve ser preservado para que realmente possamos crescer enquanto atores e pessoas.

 Estar com o coração aberto e os ouvidos atentos para as perolas que recebemos a cada dia de ensaio. “Estar atenta as preciosidades que a vida nos oferece.” (Leticia Guimarães)

Gratidão é a memoria do coração já dizia uma sábia diretora.

Gratidão a cada um dos abraçadinhos que me envolvem nessa arte e me possibilitam um espaço de sonho. Que possamos crescer juntos nos desenvolver junto e criar juntos, preservando o sagrado nas nossas relações, para que sempre seja maior do que qualquer desentendimento. Que possamos oferecer um ao outro o que temos de melhor, e assim a vida nos retribuirá com o que ela possui de melhor.

Por hora é isso, desculpa falar tanto mas é que preciso colocar tudo pra fora pra então ir organizando tudo dentro de mim.

Mas tem muita estrada pela frente, muito treino, muito estudo, muita prática e muita entrega. Agora começo um estudo mais profundo do personagem Dorminhoco e em breve posto para vocês, fica em baixo um versinho que escrevi, nessa busca pela nossa missão.

A missão é seguir, a missão é sentir só assim vou descobrir que missão devo cumprir. Esse processo quero entender, pra poder me conhecer, entrar no meu coração, Ativar minha emoção tendo plena compreensão do que eu faço com a minha mão nesse mundo tão grandão.

O coração vai bater, um sorriso aparecer e algumas lagrimas vão escorrer. Sim é isso que devo fazer...é isso que eu amo fazer. É o que vim pra fazer. Vida vida vida minha o que posso fazer? Se é isso que devo seguir me ensina então a servir, com carinho e devoção e muito amor no coração. Com  a arte eu quero aprender na arte eu quero viver da arte eu quero compreender. A arte eu quero ser. Vida vida vida minha deixa em mim a arte nascer, vida vida vida minha deixe em mim a arte crescer”

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